O jornalista esportivo PVC (Paulo Vinícius Coelho) revelou, primeiro na Folha e em seguida na CBN Esportes Brasil, que o Ministério da Fazenda já enviou o texto da Medida Provisória de regulamentação das apostas esportivas para ser avaliado pela Casa Civil e assinado pelo presidente Lula, depois do Carnaval, talvez em 27 de fevereiro. A ideia do governo é arrecadar impostos com a regulação e combater a manipulação de resultados após o escândalo em partidas da Série B.
A urgência é regulamentar os sites de apostas no Brasil. Muito urgente. O escândalo de manipulação em partidas da Série B mostra a consequência e a irresponsabilidade de quatro anos de sites atuando com autorização, mas sem regulamentação.
A lei sancionada em dezembro de 2018 dizia que os sites não podiam ter sede no Brasil nem pontos de venda fixos. Havia dois anos para regulamentar. Nunca aconteceu. O futebol está em risco. Todo o esporte está.
Três jogos da última rodada da Série B são investigados: Vila Nova x Sport, Sampaio Corrêa x Londrina, Criciúma x Tombense. O meia Romário, que à época jogava no Vila Nova, admite ter sido procurado por apostadores. Os três jogos deveriam ter pênaltis marcados no primeiro tempo. Romário não foi relacionado para o jogo e só nessa partida a arbitragem não marcou penalidade máxima.
Se 30% de uma rodada está sob suspeita, é óbvio que 30% do campeonato também está. Se a Série B é alvo, se houve escândalos na segunda divisão do Rio de Janeiro e do Amazonas, é claro que a Série A também está no mapa do estelionato.
O futebol não é o vilão, é vítima —assim como os sites. Isso também acontece no tênis, no basquete… Aposta-se no número de saques errados, de faltas no primeiro quarto, se um jogador vai receber cartão amarelo. Aposta-se em tudo.
Antes da Copa, o meia suíço Xhaka, do Arsenal, foi investigado por ter demorado para cobrar uma falta no meio de campo e recebido cartão amarelo nos minutos finais da partida contra o Leeds United. Havia uma aposta de R$ 321 mil de que ele seria amarelado. Foi.
Em junho do ano passado, esta coluna tratou do tema. Nem precisou profetizar, como diz um comercial, que tem o ex-meia Hernanes como garoto propaganda. Era fácil adivinhar que o próximo escândalo viria das apostas.
A regulamentação não resolve tudo. Ajuda em dois aspectos: 1. exige dos sites que indiquem volumes incomuns; 2. Faz o dinheiro ficar no Brasil. Como a maioria das casas está no exterior, o dinheiro não fica aqui. O governo perde bilhões em impostos.
O texto da Medida Provisória é da equipe de José Francisco Manssur, assessor da Secretaria Especial do Ministério da Fazenda. Nesta quinta (16), Manssur teve reuniões no COB e na CBF. Levou propostas como tirar do cardápio todos os campeonatos investigados. Se as denúncias se confirmarem, os torneios serão excluídos do menu.
Manssur é um dos pais da Sociedade Anônima do Futebol (SAF), junto com o advogado Rodrigo Monteiro de Castro.
Todos os escândalos de manipulação no esporte mundial estão relacionados com apostas. O Tottonero, na Itália de 1980, Máfia da Loteria Esportiva, denunciada pela revista Placar, em 1982; Máfia do Apito, de Edílson Pereira de Carvalho, em 2005; jogos do torneio de Wimbledon, investigados em 2021.
Sem dar bola para isso, a indústria do futebol lambe os dedos com o dinheiro dos apostadores.
Há oito meses, o Santos demitiu o preparador físico de seu time feminino por suposto envolvimento em tentativa de suborno da goleira do Bragantino, pelo Brasileiro feminino. Na camisa santista, até hoje está estampada a marca Pixbet. São 19 times da Série A patrocinados por sites de apostas.
Programas de TV e rádio têm anúncios dessas casas. Toda a indústria do futebol aposta que nada de grave vai acontecer. Estão todos perdendo.
Fonte: Folha de São Paulo