O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se reuniu com os presidentes dos principais bancos do país para discutir a situação do crédito bancário, bets, e outros assuntos relevantes ao mercado financeiro, revela reportagem do Valor.
O encontro estava previsto para acontecer no fim da manhã desta quarta-feira (16), no Palácio do Planalto, e deve contar com representantes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Itaú Unibanco, Bradesco, Santander, BTG Pactual e Banco Safra.
Segundo interlocutores, a reunião é uma “vitória” do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que é quem fez a interlocução para que Lula recebesses os banqueiros na sede do Executivo. Uma das fontes envolvidas nessas conversas admitiu que, além da questão do crédito, também devem ser discutidos assuntos sensíveis para o mercado financeiro, como a questão da taxação de milionários.
A proposta de taxar milionários foi apresentada recentemente por Haddad, e teria como alvo pessoas que ganham mais de R$ 1 milhão anualmente. Apesar disso, a proposta é apenas um dos quatro cenários com os quais o governo federal trabalha para isentar do Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil mensais.
Outro assunto que deve entrar na pauta do encontro é a regulação do mercado de apostas esportivas, as chamadas bets. A regulação do mercado de apostas esportivas foi tema de reunião do governo na semana passada.
No encontro, Lula e os ministros discutiram, por exemplo, a possibilidade de a gestão petista impedir apostas de beneficiários do Bolsa Família, grupo vulnerável que estaria suscetível ao endividamento nessas plataformas.
Após o encontro, no entanto, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, explicou que, por enquanto, não haverá bloqueio do cartão do Bolsa Família para o uso em bets. O tema, disse ele, será analisado a partir desta semana, quando está previsto o bloqueio de cerca de 2 mil endereços de bets que não estão na lista positiva divulgada pelo governo.
Na pauta da reunião também está previsto o tema da regulamentação da reforma tributária. Isso porque os bancos mantêm hoje um elevado volume de Créditos Tributários Diferidos, conhecido como DTAs.
O assunto tem sido acompanhado de perto pelo governo Lula porque o Palácio do Planalto gostaria de ver a regulamentação aprovada, no Congresso Nacional, ainda em 2024. Esse desejo foi verbalizado, recentemente, pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT).
“Devemos ter uma nova reunião esta semana sobre a regulamentação da reforma tributária. A reunião vai ser com o relator Eduardo Braga. Quero reforçar que o governo está otimista com a possibilidade de concluir a votação da tributária este ano. A aprovação [da regulamentação da reforma tributária] neste ano é um gesto importante”, disse Padilha.
O esforço de Padilha em pedir que a regulamentação da reforma tributária avance ainda este ano tem relação com uma disputa silenciosa entre a Câmara dos Deputados e o Senado que ameaça deixar a conclusão do texto para o ano que vem, contrariando a vontade do governo.
O movimento já foi identificado por integrantes do governo, que, reservadamente, admitem a possibilidade de a apreciação só ocorrer em 2025. O motivo é que, nos bastidores, um grupo de senadores tenta evitar que a deliberação seja finalizada na gestão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que deixará o cargo a partir de fevereiro. O intuito é impedir que o alagoano fique com o mérito por ter dado a palavra final na matéria.
Fonte: Valor