Publicidade de Casas de Apostas Pode Ser Proibida no Brasil? Entenda o Debate

No dia 23 de abril de 2025, a Comissão de Esporte do Senado promoveu um debate sobre a possibilidade de restringir ou até proibir a publicidade das casas de apostas esportivas, popularmente conhecidas como “bets”.

O encontro reuniu argumentos de diferentes perspectivas:

  • Preocupação com jovens: destacaram-se alertas sobre a exposição massiva de crianças e adolescentes à publicidade de apostas.
  • Risco de dependência: especialistas apontaram que a exposição contínua à publicidade pode estimular hábitos de apostas e contribuir para transtornos como a ludomania (jogo patológico).
  • Comparação com álcool e tabaco: houve quem defendesse a adoção de regras mais rígidas, similares às aplicadas a produtos como cigarro e bebidas alcoólicas.
  • Impacto econômico positivo: em contraponto, reconheceu-se o papel fundamental do setor para a economia, especialmente via patrocínios esportivos e investimentos publicitários.

A Responsabilidade na Publicidade das Bets

O vício em jogos é reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um transtorno, o que reforça a necessidade de regulamentações rigorosas.

Em resposta a essa preocupação, a Portaria SPA/MF nº 1.231/24 estabeleceu importantes obrigações para os operadores, incluindo:

  • Implantação de ferramentas analíticas para identificar e acompanhar perfis de risco;
  • Adoção de metodologias de classificação e análise de dados para prevenir transtornos de jogo;
  • Estruturação da publicidade para:
    • Respeitar o conceito de jogo responsável;
    • Prevenir dependência e transtornos relacionados;
    • Proibir apostas por menores de idade.

Além disso, a portaria exige que as operadoras promovam campanhas educativas, colaborando com iniciativas do setor e também realizando ações próprias voltadas ao seu público.

Em complemento, o Anexo X do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária estabeleceu normas específicas para publicidade de apostas esportivas, determinando:

  • Foco no jogo responsável;
  • Proteção do público vulnerável;
  • Proibição de conteúdo enganoso;
  • Clareza na identificação de publicidades patrocinadas (obrigando influenciadores e criadores a sinalizarem conteúdos pagos);
  • Regras específicas para mídias digitais.

Essas diretrizes mostram que já existe um arcabouço regulatório sólido, ainda que passível de aprimoramentos.

Proibir a Publicidade é a Melhor Solução?

Na análise de Maurício Morishita, sócio fundador da Sadi & Morishita Advogados e especialista em Direito Empresarial e Digital, não seria razoável proibir completamente a publicidade das casas de apostas no Brasil.

Segundo ele, o marketing é essencial para o funcionamento dessas operações regulamentadas, e sua proibição poderia gerar efeitos indesejados, como o fortalecimento do mercado clandestino.

O argumento é respaldado por dados. De acordo com estudo do Banco Itaú (“Apostas on-line: estimativas de tamanho e impacto no consumo”, de 13/08/2024):

“Empresas de apostas que operam no Brasil destinam entre 45% e 75% de suas receitas ao marketing.”

Ou seja, sem publicidade, as bets poderiam perder seu principal motor de operação, impactando negativamente o mercado regulado.

A Importância Econômica do Setor

O impacto das bets vai além da publicidade. Conforme matéria publicada no Portal GE da Globo, todos os clubes do Brasileirão 2025 são patrocinados por casas de apostas.

Destaques incluem:

  • Flamengo, com patrocínio da PixBet no valor de R$ 115 milhões anuais;
  • Atlético-MG, com a H2bet, recebendo no mínimo R$ 60 milhões por ano;
  • Botafogo, patrocinado pela Vbet, com acordo de R$ 55 milhões anuais.

No âmbito público, o Governo Federal também projeta uma arrecadação relevante:

  • Mais de R$ 1,8 bilhão anuais com taxas de fiscalização e outorga;
  • Taxa de outorga de R$ 30 milhões por casa de apostas a cada 5 anos;
  • Tributação convencional via PIS, COFINS, CSLL, IRPJ e ISS;
  • Contribuição de 12% sobre o rendimento bruto das apostas, revertidos para áreas como educação (10%), segurança pública (13,6%), esporte (36%), turismo (28%), entre outras.

Esses números evidenciam que o setor de apostas online é hoje um pilar importante da economia nacional.

Conclusão

Proibir a publicidade das casas de apostas não é o melhor caminho. O fortalecimento da regulamentação e da fiscalização, com ajustes para proteger os públicos vulneráveis e garantir práticas de marketing responsáveis, parece ser a via mais equilibrada.

Como conclui Maurício Morishita:

“O caminho do diálogo em prol do fortalecimento do mercado regulado e aprimoramento da fiscalização se mostra como a melhor alternativa para harmonizar a liberdade econômica, a proteção ao consumidor e a integridade do mercado.”


Sobre o Autor

Maurício Morishita é sócio fundador da Sadi & Morishita Advogados, especialista em Direito Empresarial (FGV – Gvlaw) e Direito Digital (PUC-SP). Reconhecido como um dos advogados mais admirados do país pela Análise Advocacia 500 (2020). DPO certificado pela EXIN, com certificações em Privacy and Data Protection Foundation (PDPF) e Information Security Management ISO/IEC 27001 (ISFS). Atua nas áreas de Tax, Gaming, iGaming e Digital.

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