O secretário nacional de apostas esportivas, Giovanni Rocco, afirmou que há indícios da atuação de crime organizado em casos de manipulação de resultados no Brasil. A declaração foi feita em entrevista ao ge, durante o Encontro Técnico Nacional sobre Combate à Manipulação de Resultados Esportivos, realizado em Brasília durante os dias 29, 30 e 1º de outubro.
Segundo Rocco, a manipulação é um crime complexo e, em muitos casos, existem sinais de redes internacionais que usam competições esportivas como meio para lavar dinheiro. “É muito mais complexo. Um dos artifícios que eles utilizam é pulverizar o número de apostas e o número de apostadores. Eles já têm uma rede constituída, dessa rede eles pulverizam nas milhares de casas de apostas no mundo, e o volume que eles acabam arrecadando com esse crime é muito grande.”, disse.
O secretário explicou que as casas de apostas regulamentadas têm obrigação de comunicar suspeitas de manipulação à Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, geralmente em até cinco dias. Em situações mais graves, o prazo pode ser reduzido para 48 horas.
“Elas têm um prazo de, em alguns casos mais latentes, 48 horas, mas os prazos naturais são de cinco dias para informar ao ministério da Fazenda, na Secretaria de Prêmios e Apostas, para que a gente dê início às investigações das ocorrências que foram identificadas”.

De acordo com Rocco, a manipulação de resultados no país deixou de ser apenas um problema isolado envolvendo jogadores ou árbitros e passou a mostrar padrões mais sofisticados, semelhantes aos encontrados em outros mercados. Ele explicou que os aliciadores têm atuado principalmente em campeonatos de menor visibilidade, como divisões inferiores de torneios estaduais, onde a fiscalização é mais frágil e a vulnerabilidade dos atletas é maior.
Além da investigação, o governo aposta também em medidas preventivas, como ações educativas junto a atletas em formação, federações e técnicos. Rocco alertou que até situações aparentemente menores, como forçar um cartão amarelo, podem configurar manipulação se afetarem o andamento de competições.
“São dois caminhos: educar para não precisar punir, e punir de forma pedagógica para também educar. O que não dá é o sentimento de impunidade, isso é uma coisa que frustra muito”, disse.
Na avaliação do secretário, a falta de regulamentação por muitos anos abriu espaço para práticas ilegais. Antes da lei sancionada em dezembro de 2023, que estabeleceu regras para as apostas de quota fixa, milhares de sites atuavam no país sem qualquer controle. Esse cenário, segundo ele, favoreceu a entrada de organizações criminosas, que se aproveitaram das lacunas legais.
O Brasil também aderiu, na condição de ouvinte, à Convenção de Macolin, acordo internacional voltado ao combate da manipulação de resultados esportivos. A expectativa é que a medida fortaleça a cooperação com mercados já regulamentados no exterior e amplie a fiscalização sobre operações transnacionais de apostas.